sábado, setembro 26

Ato 1

E nos abraçamos.

Fora o abraço mais nervoso e sincero e ansioso e intenso e aconchegante e ávido que já recebera.
E que já dera.
E que já acontecera em toda a História.

Nervoso, pois nenhum dos dois sabia exatamente o que esperar.
Sincero, pois não havia nada mais puro no mundo do que aquele sentimento.
Ansioso, pois houvera tamanha espera que não caberia na metragem convencional do tempo.
Intenso, pois o momento em que os dois corpos encontraram-se fora como uma descarga elétrica de incontáveis volts.
Aconchegante, pois cada um encontrava no outro a simetria perfeita de seus corpos e o calor necessário para mantê-los aquecidos por todo o inverno.
Ávido, pois tanto ele quanto ela desejavam-se secretamente, com anseios e ardências, numa vontade de nunca livrarem-se do enlace cheio de prazeres et de la dèbauche que se encontravam.

Sabiam que isso nunca aconteceria novamente.
Ela sabia. Ele sabia.
Cada instante é unico e imutável.

E aquele momento presente, que tão logo se fizera passado, ficou eternizado em suas memórias e gravado para sempre no tempo. Jamais perdido, jamais esquecido. Intocável.